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Tuesday, June 28, 2011

LOW LIFE - IV

LOW LIFE - III

LOW LIFE - II

LOW LIFE - I

Wednesday, June 22, 2011

ANDROIDEMIM


(Clique na imagem para ampliar)

Paulo-Roberto Andel, 22/06/2011

Tuesday, June 14, 2011

PAULICEIA



e se
fosse o caso
daquela mina alucinante
da mooca
passar pelo pacaembu
e alimentar a tua vista
com desejos
até provocar
uma saudável
onomatopeia?
mesmo que precisasse
de vários asteriscos
que indicam
lascívia, tesão e vontade
não seriam em vão:
tudo culpa da saudável
sensação
de viver, ô meu!
vamos em frente
que armênia não é penha
e perus não é poá!
a mina é da hora
mas o sonho é só um sonho -
alguém me leve ao ponto chic,
ao delírio de um bauru
no paissandu.
sem pensar em holerite
nem osso:
eu faço o que posso
enquanto respiro e vivo
aquela onomatopeia:
a "tua mais completa tradução"*
da minha
pauliceia.


Paulo-Roberto Andel, 14/06/2011


*Citação de "Sampa", Caetano Veloso, 1978

Friday, June 10, 2011

JOÃO GILBERTO


O Brasil sempre teve vocação para grandes cantores, grandes vozes, a grandiloquência sem par de craques como Orlando Silva, Francisco Alves e congêneres. Ali, por volta dos anos trinta, destoava a singularidade de Mário Reis. Eram tempos dos grandes programas de rádio, com força equivalente à televisão atual. Ao mesmo tempo, a temática das canções era carregada: a dor, o drama, a mulher sem moral que trai, o sofrimento e a desilusão amorosas; os cabarés enfumaçados.

No final dos anos cinquenta, um jovem da Bahia virou tudo de cabeça para baixo, influenciado por muitas coisas e também pelo Mário. Com um violão impecável, sintetizou toda uma bateria de escola de samba. A voz era quase sussurrante. Saía a puta de cena e entrava a garota linda, leve, praiana. Em vez da dor, o amor safadinho mas romântico e delicado. Em vez da noite, o céu ensolarado. O baiano, ao lado de outros craques com Tom Jobim e Vinícius de Moraes, criou uma situação tão inesperada, empolgante e diferente na música brasileira que até hoje, mais de meio século depois, ainda é debatida se era um movimento, um momento ou um jeito de tocar e cantar - que até hoje influencia meio mundo musical no Brasil e no exterior, lotando casas nipônicas e norte-americanas com meses de antecedência. Tocar não somente as novas músicas como repaginar todo o grande cancioneiro de outrora, transformando as canções por completo. A batida é dele, o jeito de tocar é dele.

Samba de violão.

Voz de falar ao pé do ouvido da amada. Bossa Nova.

João Gilberto Prado Pereira de Oliveira.

Gênio do Olimpo brasileiro.

Perde-se muito tempo ao se falar das manias e possíveis esquisitices de João.

Hoje é dia de seus oitenta anos de vida.

Vamos celebrar um craque que rompeu barreiras, dinamitou paradigmas e abriu as porteiras para a música moderna feita nesta terra.

Louvemos João Gilberto. Ele está para nossa música assim como seu amigo e contemporâneo Tom Jobim, ou no futebol como Pelé, ou na literatura como Fernando Sabino, por exemplo. Oiticica nas artes plásticas. Cacaso na poesia. Paulo Autran no teatro e por aí afora. Goste-se ou não, um revolucionário na arte que escolheu para fazer e nela viver.

O Brasil não conhece o Brasil.

Um dia, há de conhecer - e aí veremos o quanto brilha em nossa constelação a magnífica estrela de João.

A Bossa Nova passou na prova!


Paulo-Roberto Andel, 10/06/2011

Thursday, June 09, 2011

VISTA VERMELHO!

A ESTRELA QUE ILUMINA O MAR


Caros amigos, ontem o futebol brasileiro experimentou um de seus momentos mais gloriosos e empolgantes dos últimos tempos – e de muitos outros.

Quero falar do colossal triunfo do Vasco da Gama, campeão da Copa do Brasil e digno representante brasileiro na Libertadores de América em 2012. Mais do que justiça, simplesmente uma questão de ajustar velhas tradições; afinal, o Vasco é o primeiro campeão sul-americano de clubes.

Não se vence um campeonato apenas num jogo final, assim nos ensinou Nelson Rodrigues, o maior cronista da história do nosso futebol. Conquistar um título é um somatório de detalhes que se juntam até o ápice. Assim foi com São Januário. O merecido título não nasceu ontem, mas meses antes, quando Ricardo – meu eterno ídolo Tricolor – chegou à cruz de malta para resgatar um time que não era ruim, mas fazia uma péssima campanha no Rio e era massacrado diariamente pelos jornais. Ricardo, com sua tradicional calma que fez dele um dos maiores zagueiros já que passaram pelo Maracanã, soube conduzir o processo com tranqüilidade e, paralelamente, chegaram alguns reforços. Muito antes do que qualquer torcedor ou analista imaginasse, lá estava o Vasco a disputar o campeonato estadual, perdendo nos pênaltis uma decisão em que tinha sido superior nos noventa minutos. Mais um recolhimento de cacos e a Copa do Brasil era uma meta – já se via na Colina certo padrão de jogo, bom sistema defensivo e a volta dos melhores momentos de Felipe, parcialmente limitado por sua condição de veterano mas ainda capaz de brilhar. Silenciosamente, sem os alardes da velha imprensa que, claro, trabalha incessantemente pela idéia de que o Rio de Janeiro tem apenas um time capaz de disputar títulos, o Vasco soube galgar os degraus e deixar os grandes favoritos comendo poeira pelo caminho.

Então, veio a batalha da grande final. Não me venham com a balela de que o primeiro jogo não foi brilhante. Ali, era o momento de o Vasco relembrar aos esquecidos o quanto sua camisa é um aríete numa final de campeonato. O Coritiba, incensado como o grande time do Brasil neste primeiro semestre, lutou mas não conseguiu empatar; assim a vantagem era enorme para São Januário: qualquer empate serviria, qualquer derrota mínima desde que fizesse gol serviria. Estava escrito.

Ontem, o Coritiba fez uma linda festa com sua bela torcida e um show de mulheres fantásticas. Fizeram do Couto Pereira um caldeirão. E começaram o jogo de forma impactante, buscando o gol mas sem maiores finalizações. Quando menos esperavam, a força vascaína apareceu como um tufão e Alecsandro abriu o marcador. Era um claro sinal de triunfo. Mais tarde, os esmeraldinos empataram e, numa infelicidade de Prass, viraram o jogo. Só os ingênuos acreditaram que tudo estava perdido para a Colina. Reitero: bastava a derrota pelo placar mínimo. Antes do final do primeiro tempo, alguns jogadores pareciam nervosos, colocando velocidade demais na bola quando isso não interessava ao Vasco, e creio que tenha sido o principal fator que levou à virada dos coxas; entretanto, quando um grande time está numa final, nada está perdido. O resto é balela dos despeitados. Perto de minha casa, uma enorme massa de torcedores cruzmaltinos ria e chorava, sofria e glorificava. Sempre me identifiquei com eles. São Januário guarda em suas fileiras torcedores que estão entre meus melhores amigos, aqui ou em algum lugar: os da faculdade, da infância e da vida afora – e todos podem se sentir representados aqui pelo inesquecível Xuru Nunes. Meu coração Tricolor não cogita desrespeitar a maravilhosa história da Colina; hoje, o Vasco é o maior algoz do meu gigantesco Fluminense e isso, por si somente, mostra o respeito que tenho por São Januário. As mentiras dos cadernos esportivos não me enganam, tais como a “sina de vice”; qualquer busca rápida nos alfarrábios e todos saberemos quem é realmente o time que mais perde finais nesta cidade.

Os quarenta e cinco minutos finais começaram e o Coritiba tentou impor a sua força como mandante, menos pela finalização e mais por certa correria e pressão. O Vasco contra-atacava. Em certo momento, me distraí com as imagens do jogo; ora mostravam Ricardo, ora o presidente Roberto, ora o treinador Marcelo e Carlos Germano. Vi todos quando eram atletas em campo e tenho maravilhosas lembranças, com apreço especial por Ricardo dados os motivos óbvios. Marcelo foi um craque; saiu do Atlético Mineiro porque tinha de disputar posição apenas com o Rei Reinaldo. Roberto é Roberto; quem viu, sabe do que estou falandoe o mesmo vale para Carlos. Num estalar de dedos, voltei à realidade atual e Éder Luiz chutou forte, de longe, contando com a falha de Edson Bastos. Seis mil vascaínos gritaram no Couto Pereira, dezenas de milhões de vascaínos gritaram por todo o Brasil e, naquele momento, ratifiquei o palpite que já tinha dado a amigos do trabalho, o pessoal da padaria e tantos outros amantes do futebol: estava no papo vascaíno, sem mais delongas. Muito antes do gol de Éder, o Vasco já vinha mostrando nos jogos a pegada de campeão que a Copa do Brasil exige: não é propriamente um futebol de rara beleza, mas nem por isso menos empolgante. Falo de garra, de luta, de marcação, de doação em campo. Falo de eficácia. Ainda houve tempo para um lindo gol do Coritiba no ângulo esquerdo de Prass e minutos finais que pareciam dias, tamanho o sofrimento – o mesmo Prass, no final, quase enfartou dez milhões de pessoas ao largar uma bola perto da trave esquerda, tocando-a para dentro do gol e dividindo com o perigoso – mas desagradável – atacante Bill. Era um três a dois, emblemático placar para nós, Tricolores, e emblemático também para o grande Vasco da Gama, que perdeu com esse resultado, mas foi um grande campeão – ao contrário de outros fracassos centenários escondidos nos cantos de páginas. Alguns querem bravatear sobre o pênalti que teria sido cometido; nada pode ser disto sobre aquele lance que venha a macular o brilhante título de São Januário, conquistado fora de casa como muitas outras taças erguidas pela cruz de malta. E é preciso dizer dos vinte minutos finais, tão eletrizantes que não permitiram que nenhum torcedor frente à televisão sequer respirasse, estivesse ele ali como vascaíno de fé, simpatizante ou mesmo mero expectador. Um jogo hitchcockiano, que fatalmente entrou para a lista das grandes finais da história do futebol brasileiro, como já disse antes.

O título vascaíno foi ainda mais valorizado pela luta do bom time do Coritiba. Espero que a perda dos coxas não abale a reestruturação da boa equipe, que tem tudo para fazer um bom campeonato brasileiro neste ano. Repito: a história de um time vai muito além de uma grande final. Após a longa noite de 2009, o Coritiba tem tudo para mostrar que aquilo foi apenas um momento. Como os coxas poderiam esquecer a esmagadora goleada sobre o Palmeiras? Impossível.

É um equívoco dizer que o Vasco voltou ao lugar de onde nunca deveria ter saído, simplesmente porque ele jamais saiu. Todos os grandes times do Brasil passam por bons e maus momentos. Uma história não se resume a cinco ou dez anos, é muito mais do que tudo isso. Como Tricolor, solidarizo-me com meus grandes amigos vascaínos e saúdo esta grande conquista, capaz de humilhar aqueles que escrevem e comentam unicamente em prol do “time oficial” do Rio de Janeiro. O Vasco não “voltou”; ele sempre esteve. "Nada além" de um grande, respeitável e permanente campeão.

A lendária estrela ilumina o mar.

A América será pequena.

Casaca!


Paulo-Roberto Andel, 09/06/2011

Wednesday, June 08, 2011

PARABOLICAMARÁ

Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena


Parabolicamará


Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará


Antes longe era distante
Perto só quando dava
Quando muito ali defronte
E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes
Dendê em casa camará


Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação


Pela onda luminosa
Leva o tempo de um raio
Tempo que levava Rosa
Pra aprumar o balaio
Quando sentia
Que o balaio ía escorregar

Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará


Esse tempo nunca passa
Não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabaça
Nem tá preso nem foge
No instante que tange o berimbau
Meu camará


Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará


De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
De avião o tempo de uma saudade


Esse tempo não tem rédea
Vem nas asas do vento
O momento da tragédia
Chico Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino
Apresentar


Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará



Gilberto Passos Gil Moreira, 1991.